Quais seriam as fragilidades, os dilemas e os desafios de um Curso de Ciências Sociais de apenas 12 anos de implantação?
O Curso da Universidade Estadual de Maringá têm, se comparada a outras universidades onde se ofertam o curso de Ciências Sociais a mais tempo, certas deficiências, que poderão e deverão ser corrigidas . A universidade federal do Paraná conta com a implantação da FFCL desde 1938. Só o Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo data de 1987.O tempo nos permite analisar maior os erros e corrigi-los, disso estamos certos, algumas deficiências são decorrentes de um curso novo em processo ainda de maturidade, mas algumas outras não!
O funcionamento do curso ocorre da seguinte forma, todos os alunos sejam do Bacharel ou da Licenciatura cursam o 1º e o 2º ano juntos sendo a mesma grade curricular para todos. A partir do 3º ano, o aluno opta por Licenciatura ou Bacharelado, dessa forma o 3º e o 4º ano apresentam-se diferentes entre Licenciatura e Bacharelado. Haverá matérias obrigatórias específicas tanto para Licenciatura quanto para Bacharelado, e algumas poucas matérias obrigatórias em comum entre Licenciatura e Bacharelado, também haverá alguns dias da semana livre em ambos, que o aluno deverá preencher com as disciplinas optativas que eles escolherem. Dessa forma os alunos dessas duas formações não se dividem por completo e fazem algumas disciplinas juntos.
Portanto, é também a partir do 3º e 4º ano que surgem as optativas que tanto os alunos da Licenciatura quanto do Bacharelado devem fazer. As optativas são matérias de caráter especializante e complementares para a formação dos alunos, estes devem optar pela disciplina que mais lhes agradam e que não sejam ministradas nos dias em que possuem aula obrigatória.
O curso apresenta-se como bom para uma graduação básica para as três disciplinas, entretanto ainda carece de melhorias quantitativas e qualitativas. Esses problemas, como bem podemos ver não é único do curso de Ciências Sociais, sendo comum em muitos outros cursos e na rede pública de ensino de um modo geral. Para melhor compreendermos esses problemas e buscarmos melhorias e soluções, cabe aqui nomeá-los.
O curso geral do 1º e 2º ano
Os dois primeiros anos do curso oferecem uma boa grade curricular, com conteúdo mais focado em teorias do quem em práticas, e habilita que se tenha uma formação mediana e limitada nas três disciplinas Sociologia, Antropologia e Ciência Política, a formação é mediana porque existem ainda as optativas para complementar o conhecimento e por conta de certas deficiências quanto a grade curricular geral e das disciplinas optativas.
No curso geral existe uma deficiência teórica na área de Filosofia, de Psicologia e de Economia. Filosofia e Psicologia não existem na grade curricular geral, e Economia ministrada em apenas um semestre apresenta-se insuficiente em contribuir para formação em Ciências Sociais. A Antropologia oferece uma boa carga teórica, mas poucas opções de pesquisa de campo, que é a especificidade da disciplina; existem algumas idas a campo de grupos como a Tulha e a LAPA, mas que são esporádicos; além do mais a forma como a disciplina é ministrada apresenta-se um pouco confusa para alguns alunos que reclamam que a disciplina é ministrada sem uma linha de continuidade lógica entre os conteúdos. Somando-se a isso a disciplina ficou sem Antropólogo para dar aula no ano passado, por conta de afastamentos, licenças e decisões departamentais que carecem de esclarecimentos.
A Sociologia tem tido grande atuação municipal e regional através da ação do Observatório das Metrópoles, mas existe falta de diálogo entre o Observatório e alunos para uma maior inclusão. Por fim a Ciência Política apresenta uma gama teórica muito limitada aos clássicos apenas, deixando de lado a Teoria Política contemporânea.
O Bacharelado 3º e 4º ano
O Bacharelado do curso apresenta-se bom quanto a disponibilidade de matérias mais práticas como pesquisa 1 e 2, e análise de dados quantitativos, entretanto estas matérias práticas acabam privilegiando um enfoque mais sociológico do que antropológico, o enfoque sociológico promovido pelo Observatório das Metrópoles e pela Sociologia Urbana é importante e deve ser mantido, mas o enfoque Antropológico carece de melhorias. Ainda no bacharelado as matérias de Ciência Política e Economia Política são pouco desenvolvidas, principalmente na linha mais crítica da Ciência Política.
Dentro do campo das fragilidades temos de grande importância a estrutura física que se utiliza o curso e a falta dessa estrutura, como por exemplo usamos o bloco de engenharia química para termos aula, sendo que o nosso suposto bloco, era para ser terminado – pois está sendo construído – em 2009, essa promessa não foi cumprida pela reitoria. A respeito disso, esse ano, fizemos atos, cartas, reuniões com a reitoria e nada foi decidido, só promessas, mas nada de concreto, pois com a finalização desse bloco vários cursos da áreas de humanas seriam beneficiados, não apenas o curso de Ciências Sociais.
Temos também o desenvolvimento de uma grade curricular adequada à formação de bons profissionais, o que é de fácil visibilidade que poderia estar melhor desenvolvida, pois existirem lacunas a formação profissional. Implantações como de um programa Educação tutorial, estágios, PIBID, PET, programas que só viriam a acrescentar para a nossa formação com cientistas sociais. Se bem analisados e se de utilidade poderiam auxiliar na participação e o desenvolvimento acadêmico, como faz o CA, englobando os estudantes em prol de diversas atividades acadêmicas.
Já se tratando do campo dos dilemas, talvez o maior dilema possa ser resumido na indagação dessa questão: Que tipo de Cientistas Sociais queremos formar? Produtivistas aptos ao mercado de trabalho ou um profissional cientifico capaz de analisar os problemas e relações que dirigem a sociedade? Na verdade a excelência estaria em somar a atuação do Cientista no campo de trabalho, mas sem deixarmos enrustida nossa real função.
É um Duplo desafio! Conciliar o rigor científico e pedagógico com a crítica social reflexiva. De um lado os professores devem dominar um conjunto amplo de disciplinas e seus saberes, e de outro devem ser capazes de sensibilizar seus alunos, mesmo que esses, em muitos aspectos, sejam herdeiros de um modelo educacional mecanicista e pouco reflexivo.
A questão é complexa, disso sabemos. Mas é preciso ir à busca de melhorias porque o amanhã será feito de discussões e ações do agora.
A respeito do Departamento de Ciências Sociais, nesses últimos meses consideramos que os alunos obtiveram uma vitória. A coordenação pedagógica do curso, estava focando muito mais a questão do produtivismo, deixando de lado a real função do cientista social, estavam querendo que nós alunos entrássemos nos moldes de um sistema capitalista que visa apenas a produção em larga escala. Nós “batemos o pé” e exigimos mudanças! Conseguimos que o professor que estava à frente se retirasse do cargo de coordenador, pois infelizmente ele não estava lutando pelos estudantes, que na sua maioria queria que o curso tomasse outro rumo e não se adequasse ao sistema.
Agora, está frente do curso, uma professora que se disponibilizou em estar assumindo isso, mudando vários aspectos do curso e já começou com a solicitação do PIBID no curso para o ano de 2012.
Com isso vemos que a nossa luta, a luta do Centro Acadêmico Florestan Fernandes, está obtendo resultados, aos poucos, mas estamos vendo resultados. A nossa expectativa é que possamos fazer o nosso curso, com condições necessárias para que possamos nos tornar cientistas sociais aptos e não apenas cientistas sociais moldados pelo sistema.
Um comentário:
Um dúvida: Em que medida a solicitação do PIBID - um programa institucional, completamente associado aos interesses do "sistema" - representa essa guinada, essa mudança de sentido, ou de perspectiva do curso?
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